Honeyde Bertussi, ícone da cultura musical popular gaúcha, traduziu as belezas, as lidas campeiras, os campos, coxilhas e canhadas, e as vivências de sua terra natal em composições musicais marcadas por uma imensa originalidade, difundida que foi e, continua sendo, para os mais longínquos rincões do Rio Grande e do Brasil.

Sua história, sua persistência, determinação e sua crença nas possibilidades da música e do acordeom como arte, entretenimento e profissão construíram um legado de inspiração e reconhecimento, ultrapassando fronteiras e influenciando milhares de músicos acordeonistas por todo o Brasil afora.

Honeyde Bertussi, nasceu em 20 de fevereiro de 1923, no Rincão da Mulada, interior do Distrito de Criúva, então pertencente a São Francisco de Paula, hoje Distrito de Caxias do Sul, filho de Fioravante e Juvelina Bertussi, tendo como irmãos Valmor, Wilson e Adelar.

Somente iniciou sua carreira musical aos 19 anos de idade quando, como dizem os campeiros ” passou a se governar”, tendo em vista que seu pai Fioravante não via com simpatia a ideia de Honeyde vir a se dedicar à profissão de músico, especialmente de músico gaiteiro. Assim só conseguiu adquirir sua primeira gaita Todeschini em 04 de janeiro de 1942.

Quarenta dias após receber o acordeão já tocou o primeiro baile. Em novembro do mesmo ano compôs sua primeira obra musical, o samba campeiro (ritmo com denominação por ele criado), ” CANCIONEIRO DAS COXILHAS”, uma marca ‘ Bertussi” que continua fazendo parte do repertório de todos os acordeonistas do Sul e outras regiões do Brasil.

Fioravante, que era músico, maestro e regente da Banda Distrital de Criúva, e que inicialmente via a decisão de Honeyde de ser músico profissional com muitas restrições, ao perceber o talento do filho resolve criar um conjunto musical com os demais filhos em que ele próprio tocava clarinete, Honeyde acordeom, Wilson sax tenor , Valmor bateria e Adelar inicialmente pandeiro, depois acordeom.

O Conjunto que se denominava ” Dois Purungos Acoierados”, teve duração efêmera tendo em vista outros interesses empresariais da família que exigiam presença e dedicação de alguns seus membros. Assim nasce a inédita dupla de acordeonistas, Honeyde e Adelar Bertussi.

No final de dezembro do ano de 1949 em se deslocando para uma “touneé” pelo Oeste Catarinense, passam por Erechim, aonde fazem uma apresentação na rádio da cidade, ocasião em que foram apresentados e batizados pelo radialista Álvaro de Aquino como sendo os “Irmãos Bertussi”.

Em 1954, depois de muitos esforços conseguem gravar seu primeiro disco Long Play no Rio de Janeiro pela gravadora Copacabana, constituindo-se no segundo LP gravado no Brasil de músicas regionais gaúchas, apenas antecedido pelo trabalho do Grupo Vocal Farroupilha, em 1953.

Este acontecimento, de valor incomensurável para a época, colocava a música Bertussi nas ondas de todas as rádios do Sul do Brasil, lhes emprestando um importantíssimo impulso para a consolidação daquela que é considerada até os dias de hoje, a melhor dupla de acordeonistas de todos os tempos.

Honeyde e Adelar atuaram juntos em milhares de festas, bailes e shows até o ano de 1966. Apresentaram-se pela última vez profissionalmente como dupla de acordeonistas, na memorável noite de 21 de março daquele ano, no show de encerramento da Festa da Uva, em Caxias do Sul.

Naquela fase da carreira gravaram oito LPs onde se encontram icônicas músicas como O Cancioneiro das Coxilhas, Casamento da Doralice, São Francisco é Terra Boa, O Tropeiro, Oh! De Casa, Cavalo Preto, Baile da Serra, Loira Casada, Festa do Morro Feio, e mais de uma centena de outras, que fazem parte indispensável do repertório de seguidores desta verdadeira vertente musical, onde se cantam os encantos, lidas e enleios de sua tão querida terra natal.

Honeyde e Adelar continuaram a sólida carreira artística em parceria com outros profissionais do acordeom. Honeyde inicialmente fez dupla com seu filho Daltro quando gravou três LPs. Depois seguiu em sequência com os excelentes músicos Paulo Siqueira, Acioly Machado e Oscar dos Reys com quem gravou mais cinco LPs. Após estas parcerias continuou trabalhando intensamente apresentando-se em carreira solo até o final de sua vida.

Honeyde foi um verdadeiro militante na saga de mostrar e consolidar as possibilidades do acordeon com instrumento musical. Executava, e gravou, além de músicas gaúchas, baiões, tangos, boleros, milongas e músicas clássicas como as árias, “Marcha Triunfal” da Ópera “Aida” e “Coro dos Ferreiros” da Ópera “Il Trovatore” do compositor italiano Giuseppi Verdi.

O pesquisador Paixão Cortes destaca a importância da dupla “Irmãos Bertussi” que surge exatamente no momento nasce e floresce o Movimento Tradicionalista Gaúcho, do qual Honeyde participou ativamente, inclusive participando de todos os Congressos Tradicionalistas enquanto sua saúde permitiu. Com a criação de milhares de CTGs, seus salões de baile foram embalados pelas valsas, xotes, rancheiras, marchinhas, bugios, e sambas campeiros destes “dois irmãos acordeonistas, que consolidaram um estilo musical inconfundível, a música de salão, a música de baile, a música fandangueira do Sul do Brasil.”

Honeyde Bertussi, ” O Cancioneiro das Coxilhas” veio a falecer em 04 de janeiro de 1996, aos 72 anos de idade. Seus restos mortais estão depositados no “Memorial Irmãos Bertussi” em São Jorge da Mulada, Criúva, sua terra natal, um monumento que eterniza em pedra, concreto e bronze o legado musical de uma história escrita com determinação, perseverança, ética e talento.

Por isso, nada mais justo do que prestarmos esta homenagem ao centenário de nascimento de Honeyde Bertussi, ” O CANCIONEIRO DAS COXILHAS”

COMPARTILHE: